Fatores bióticos

FATORES BIÓTICOS QUE AFETAM A GERMINAÇÃO

Para que germine a semente deve estar viva. O período que uma semente pode viver é aquele determinado por suas características genéticas, e recebe o nome de longevidade. O período que a semente realmente vive é determinado pela interação entre os fatores genéticos e fatores ambientais; esse período recebe o nome de viabilidade; portanto, o período de viabilidade pode ser no máximo igual ao de longevidade. Estes são os dois fatores internos que influenciam a germinação de sementes.

            Longevidade

As espécies variam quanto à longevidade da semente, sendo classificadas por Harrington (1960) como “longevas” (com longevidade de 10 anos ou superior) e “de vida curta” (longevidade inferior a 10 anos). Esta classificação é arbitrária, e há grande variação dentro de ambas as categorias. Geralmente, a longevidade é aumentada conservando-se a semente com baixo teor de umidade e temperatura. Porém, nem sempre este é o caso, assim existem espécies em que as condições de conservação da semente devem ser exatamente opostas, isto é, maior longevidade é obtida mantendo-se elevado teor de umidade na semente, e baixas temperaturas lhes são letais, como por exemplo o cacau (Theobroma cacao L.) e o chuchu (Sechium edule Sw.).

            Viabilidade

O período de vida que uma semente efetivamente vive dentro do seu período de longevidade é em função dos seguintes fatores:

  • Características genéticas da planta progenitora: sob mesmas condições ambientais espécies e cultivares diferentes terão diferentes períodos de viabilidade;
  • Vigor das plantas progenitoras: vários são os fatores que podem determinar modificações no vigor de uma cultura qualquer (genéticos, fisiológicos, morfológicos, mecânicos, etc). É de se supor que uma planta enfraquecida pela ação de qualquer um destes fatores venha a produzir sementes com ‘período de viabilidade mais curto.
  • Condições climáticas durante a maturação das sementes: o clima predominante durante a maturação das sementes exerce uma influência muito grande sobre seu período de viabilidade, principalmente em decorrência do regime hídrico.
  • Grau de injúria mecânica: injúria mecânica é, provavelmente, o fator mais importante que concorre para reduzir o período de viabilidade de sementes. O efeito da injúria pode tanto ocasionar a morte da semente (no caso de um impacto muito forte), como provocar rachaduras na casca que facilitam a entrada de microrganismos patogênicos ao seu interior, que, por ocasião da germinação, podem mata-la ou reduzir seu vigor, de modo que a plântula emergente seja mais fraca e portanto, mais suscetível de vir a morrer, sob condições adversas.
  • Condições ambientais de armazenamento: determinadas condições de armazenamento podem ser suficientes para aumentar o metabolismo das sementes, não promovendo a germinação das sementes, mas acelerando a o processo de deterioração, que pode resultar na morte da semente, isto é, perda total da viabilidade.

 

            Grau de maturidade

Fator relacionado com a germianção e a maturidade fisiologica. Normalmente a máxima germinação coincide com a maturidade fisiologica que é o acúmulo de materia seca.

            Sanidade

Fator associado durante o processo reprodutivo, sendo que alta umidade favorece a incidência de microorganismos.

 

            Genótipo

O genotipo tem que ser favoravel para proporcionar uma otima germinação. A figura 1 ilustra a longevidade de sementes de duas linhagens de milho e de seu hibrido quando armazenadas em ambientes com 75% de umidade relativa do ar, a 30 graus, mostrando que a linhagem B tem maxima germinação até 24 meses, a linhagem A tem 95% até o periodo de 19 meses e o hibrido apresenta 80% de germianção no periodo de 14 meses.

Figura 1 Longevidade de sementes de duas linhagens de milho e de seu hibrido, quando armazenadas em ambiente com 75% de umidade relativa do ar, a 30°C. Fonte: Chang (1970).

            Dormência

A garantia de sobrevivência das espécies vegetais está diretamente vinculada à existência de sementes, as quais simbolizam a sua continuidade e diversidade. No entanto, além de conter o genoma dos progenitores, as sementes são capazes de receber estímulos do ambiente durante ou após a sua formação, permitindo alterar seu comportamento a partir da liberação da planta-mãe. Assim, após a adaptação ao ambiente, muitas espécies de plantas passaram a desenvolver, evolutivamente, mecanismos que permitissem a sua sobrevivência. Dentre estes, a dormência de sementes representa uma das principais habilidades das espécies vegetais para garantir a sua sobrevivência e perpetuação, estando relacionada com a duração do ciclo e rusticidade da espécie (Mcivor & Howden, 2000). A dormência é o fenômeno em que as sementes de determinada espécie, mesmo sendo viáveis e possuindo todas as condições ambientais para iniciar o processo germinativo, não germinam (Azania et. al., 2009).

 

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